Grupo de amigos que desde 1994 pedalam e divulgam o Estado do Espírito Santo

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Relato Piocerá 2011 - Dia 1

Amigos bikers, hoje posso dizer, realizei um sonho. Completei um Rally Piocerá. Não foi fácil, pelo contrário foi um Pica da galáxia, mas foi gratificante, foi emocionante, foi incrível e foi inesquecível. Não creio que eu vá conseguir, mas tentarei nas próximas linhas passar para vocês um pouco do que foi correr o Piocerá 2011, que não é uma simples corrida de Mountain Bike é um Enduro Rally onde aprendi que tudo, literalmente tudo, pode acontecer.
Abração,
Siqueira

                                  




- Prólogo – 24 de janeiro.
Após a viagem de 1700km de carro até Juazeiro do Norte – CE me juntei a cinco outros ciclistas, um apoiador e um motorista (Uma figura) dentro de uma Sprinter enquanto no outro carro, uma caminhonete 4x4 iam outro motorista e mais 3 atletas e suas bikes. Rodamos mais 600km até Teresina – PI, onde seriam as vistorias (técnicas e médica) e a largada promocional. Chegamos às 05:30 da madruga e ninguém dormiu direito. Um pouco de desconforto no carro, mas a causa principal, acho, foi a ansiedade geral. Mesmo os que já participaram de outras edições do Rally estavam “tensos”. Caia uma chuva fina que hora engrossava e depois parava. Não estava quente pra minha surpresa.
Chegamos ao Hotel onde deixamos as malas, tomamos café e montamos as Bikes. Na vistoria era obrigatório apresentar a bike e o capacete, mas muitos foram com roupa completa e pedalando. O desfile de “máquinas começou. Galera.... foi chique na última. “Cannondales”, “Scotts”, “Treks”, “Meridas”, “Giants”, “Specializeds”, uma Canyon, 2 FS1( incluindo a minha), umas 2 “Calois” e uma bike protótipo da Houston toda XTR. A Houston foi uma das empresas patrocinadoras do evento e Tb patrocinou um dos atletas da Over40. Tinha carbono pra todo lado. A Bike mais top era uma Trek 9.9 SSL com peças super top que segundo o feliz Rider estava pesando 7,8kg.... Uma pintura mesmo... “sempre sonhei!!!” No mundo das Full suspension as Scott Spark e Specialized Epic e FSR estavam lá. Tinha uma Specialized Epic 29. Também tinha umas 3 bikes básicas de um grupo de cicloturistas que estavam lá na intenção apenas de completar a prova. Uma delas tinha bagageiro e nessa hora lembrei-me do nosso guerreiro Carlão.
Os caras da organização olhavam as bikes, anotavam o número do quadro e procuravam trincas ou quebras, conferiam freios, corrente, pneus, pedais, canote e selim. Muito profissional mesmo e soube depois que houve uma bike que foi reprovada, sorte do cara que era de Teresina e arranjou outra de um colega.
Confirmei minha presença, ganhei o kit com caramanhola, boné, adesivos da Houston, biscoitos e chilitos promocionais e uma camisa bacana do Rally. Hã e o principal né... O adesivo da vistoria na Bike. Voltamos pro hotel e passamos a tarde no Shopping da cidade.
A noite fomos todos prontos para a Largada promocional. Tinha muita gente, Motos, Quadriciclos, Carros e os Bikers. A organização foi legal e tinham tendas dos patrocinadores vendendo roupas, equipamentos, Bikes (Houston), Motos e Quadriciclos(Honda) e Caminhonetes AMAROC expostas. Os bikers abriram o desfile. Giramos por um campo de futebol e passamos na passarela para as fotos e filmagens.... Pô os caras vacilaram na colocação da rampa em aço meio liso que com a chuvinha virou sabão e aí teve gente caindo antes da hora....
Tinha a imprensa em peso com cobertura do pessoal do Esporte Espetacular inclusive. Terminada a promocional voltamos para o hotel pedalando (5km), deixamos tudo pronto (Percebi que esqueci a cinta do Polar e nessa hora o prevenido companheiro Gustavo me emprestou uma, é o cara tinha levado 2. E antes do fim do Rally ainda quebrou meu galho mais vezes com outras coisas e eu consertei a bike dele). Comemos Pizzas com suco de laranja enquanto desabava uma chuva pesada. Dormi igual uma pedra... ZZZzzzzz!!!




- Primeira Etapa – 25 de janeiro. 59km especial e 37km deslocamento.

Café da manhã às 05:00h e saímos para o local da largada. Chegando lá vi que a pressão ia aumentando. Eu tava tranqüilo. Enquanto fazia meu aquecimento vi gente correndo pro banheiro e uns pro mato, aí aconteceu a primeira mazela, dois caras foram cagar no mato e encostaram em plantas de Urtiga..... Hummm.... ficaram com as pernas empoladas e tiveram que tomar antialérgicos é mole....... Foi bom pra descontrair a galera...... hahaha.... Claro que eu não zoei nem um pouquinho né!!!....
Posicionei-me para a largada na primeira fila, junto aos feras afinal eu tinha me preparado bem e queria andar com os caras. A chuva da noite tinha encharcado geral e o coordenador da prova avisou que haviam mudado o percurso, pois um rio tinha transbordado (Putz).

Aviso de largada em cinco minutos.... Coração começa a acelerar de leve.... Toca a buzina.... Larguei na cabeçada e com uns 2 km tava eu e mais dois revezando na ponteira.... coração à 85% belezinha. Olhei no Q-tay e tava a 30km/h.... ”Maneiro, legal”.... acho que até fraco né... De repente a primeira fuga..... QUE PICA...3 caras de roupas iguais de uma equipe do Pernambuco deram um tiro....

A cabeçada foi atrás e a velo chegou aos 45, 48km/h.... anulada a fuga em pouco mais de 2 minutos.... Voltamos aos legais 30km/h.... 30 segundos depois dois caras de outra equipe torceram o cabo.... Lá vamos nós, 40, 45km/h por uns 3 minutos, coração passa de 183 BPM.... Vem o sossego.... Essa brincadeira continuou e não é que tava bom, bom demais.... Passamos uns trechos de lama na canela no meio de um canavial...

O pelotão diminuiu.... (nessa hora valeu o treino que fiz com o Leandro, Pedro e Renatim). Contando comigo acho que eram uns 11 ou 12 agora.... Pegamos um plano que dava pra ver uma subida mais a frente, pensei.... Agora é minha vez... Tradicionalmente os riders do Nordeste não sobem tão forte (lá tem poucas subidas pra treinar) então ali era a chance deu dar o pulo do gato e vi que tinha dois de minas no bolo.

Puxei uma fuga forte por uns 4km engolindo a subida no coroão junto com 3 bikers.... O galerão ficou geral.... colocamos uns 200 metros no segundo grupo e estávamos abrindo e sobrando..... Acho que esse foi o melhor momento de todo o Rally, primeiro dia, 45 minutos de prova e eu no 1º pelotão com os feras dos feras.... Eu tava feliz igual pinto no lixo..... De repente um estalo “QUE PICA” eu fui parando.... Quase derrubei um dos riders (era o Zé Filho triatleta de Fortaleza que competiu comigo nos tempos do Circuito Limão Brahma anos 90 e me reconheceu depois)... Olhei pra baixo a corrente arrastando no estradão.... Ataiai.... .... (mal eu sabia que ali começava o flagelo desse dia).

Parei rapidim e precavido já voei no powerlink extra, perdi uns 5 a 6 minutos no nervosismo e consegui sacar o elo quebrado e recolocar a corrente enquanto o segundo pelote e outros bikers iam passando a mil. Voltei a pedalar e logo formou um grupinho, comecei a puxar pra tentar buscar a cabeçada ou ao menos o segundo pelote. Quando via um rider a frente mirava nele e pensava: “aquele eu pego”, apertava até colar na roda, descansava uns 2 minutos e partia pra outro. Nisso vinham uns 3 ou 4 me acompanhando, outros ficaram pra trás.

Passamos por uma ponte de madeira e um cara caiu.... entramos num trecho de piçarra e a velocidade cresceu, tava andando à 38km/h mas percebi que estava gastando muita energia pois só eu tava com a cara no vento, então segurei em 30km/h e mesmo assim ninguém quis puxar...... sacanagem. Sai da aba pô. Vi uma subidinha e aí “meti a bota”.... Não veio um.... É aquela coisa, 30 metros de subida viram uns 150 na descida, fui embora.

Alcancei dois cara que corriam em dupla..... Perguntei se podíamos compor pra se ajudar e os caras toparam... Mas o trecho que passamos juntos o problema não era vento, era lama.... Tinha lugar que não adiantava ir na beiradinha do estradão. A lama era na canela.... Uma Pica e após uns 4kms senti a bike ficando “pesada”, os caras girando e eu fazendo uma força... o disco piava igual uma coruja eu morrendo de fazer força.... Dá não... Parei...

Debaixo de uma árvore girei a roda dianteira, livrinha, blz... fui girar a traseira e parecia uma roda de caminhão. O freio tava quase travado... e a lama “comendo de esmola”... Gastei quase uma garrafinha toda de água limpando o caliper e aí percebi que uma pedrinha tava presa entre a pastilha e o êmbolo do pistão o que fazia um lado ficar forçando o disco... Com a chave de fenda consegui depois de muito sofrimento desgarrar a pedra, e forcei a pastilha pra voltar, 100% não ficou, mas dava pra seguir...

Voltei a girar e percebi a Renatinha na Roda.... Calma, é Renatinha mesmo, não era o nosso Comocome da estrela. Era a primeiro lugar feminino(Ela ganhou o rally e o namorado dela Ivanildo foi o campeão entre os homens). Ela vinha puxando um pelotinho de 5 e eu logo vi que os caras só “sugavam na aba” andando na roda. Galera e pensem numa baixinha que pedala forte. Como sou cavalheiro tomei a frente e comecei a apertar. Sabia que não tinha mais chance de buscar os ponteiros mesmo por que um motoqueiro da organização passou e disse que eles estavam a mais de 20 minutos adiante... Eu puxei forte pra pelo menos fazer um tempo melhor e nisso esse grupinho andou uns 15 km juntos. Minha água acabou e comecei a ficar preocupado. Uns 3 Km e a sede batendo meu ritmo caiu.

Renatim dá uma puxada e vai embora levando outros cara na roda(vão me zoar já sei). Ficou eu e outro (O cara sem água Tb foi ficando pra trás. Eu não podia fazer nada pô(quando a farinha é pouca meu pirão primeiro né). Uns 10 minutos depois vem um cara e emparelha... Era o Manuel da equipe Cajubiker’s de Juazeiro do Norte (Um cara gente boa e meu chegado) ele fala comigo e eu na hora: “To lascado de sede minha água acabou lá atrás, pedido de amigo, pedido de amigo dá uma aguinha aí”. O cara puxa uma garrafa cheinha e ainda meio gelada do bolso e me entrega... Valeu Manelão... Andamos um tempo juntos e passamos uns dois com Pneus caídos correntes furadas sei lá.... No Km 47 ponte de rehidratação.... Eu parei e resolvi encher as 2 garrafas, Manuel pegou dois copos e zarpou rapidim. Nada não, falei te pego jájá.... o outro rider sem água chegou e deitou no chão.... O cara parecia aqueles perdidos no deserto quando chegam num oásis.... ficou lá... bebendo água jogado na sombra... Nessa hora eu me assustei e pensei pô esse negócio aqui pode matar um véi... (Mas tinha bastante pontos de hidratação).

Apertei o “pé” pra buscar o Manuel e a Renatinha na intenção de pelo menos chegar junto. Depois de umas curvas e subidinhas fracas Manuel no visual, coloquei um alvo nas costas dele. Na ora que to colando o cara dá uma olhada pra traz e minha gancheira quebra.... desculpa aí mas PUTA QUE PARIU!!!.... Que olho gordo do carai heim Manuel... primeiro alisou com água e depois botou com areia né...
Aí veio o dilema: 1-gastar uma garrafa pra limpar a lama e trocar a gancheira naquela situação com o risco de estragar a rosca do câmbio (XO orange em alumínio) ou 2-correr até o fim da especial (trecho cronometrado). Passou um dos motoqueiros “anjos da guarda” e eu perguntei falta quanto pro fim da especial o cara falou “pouquinho... é bem aí...”

BEM AÍ... BEM AÍ.... Quando um nordestino disser que é BEM AÍ.... Vá não!!! Peguem um taxi OK... Corri 8km empurrando a bike... isso mesmo corri... numa média de 12 km/h... Pensei em parar, mas via um bike passando e ficava puto, via outro e pensava ta chagando...

Um passou e perguntou quebrou?... NÃO, NÃO ABESTADO ELA FICOU CANSOU E EU TÔ EMPURRANDO A COITADA!!!... Outro fez a mesma pergunta... @#&%$#*&@ Tomar no *&%$#@#$#@& Filho da @#$#%@#$... completei com 2h,46min e 07seg.... 41minutos depois do 1º lugar...

Moído, lascado, com sede e todo cheio de lama com a gancheira quebrada... Mas completei... UFA!!!!





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